Uma companhia que inova o combate do desperdício de alimentos
Nilus é a primeira organização a usar energia sustentável como forma de tentar erradicar a insegurança alimentar na América Latina
Escrito por Gabriela Vieira
Traduzido por Isabela Lima
Como resposta aos desperdícios globais de comida e seus efeitos socioambientais, a companhia latino-americana, Nilus, atua como uma entidade comunitária que busca erradicar a insegurança alimentar e a desnutrição, fazendo o uso de tecnologia para combater o desperdício de comida ao redor do globo.
Segundo o seu fundador e CEO (diretor executivo), Ady Beitler, a corporação nasceu da preocupação com experiências de insegurança alimentar e fome vividas por comunidades vulneráveis, além da preocupação com a atual situação ambiental do planeta.
A Gerente Nacional Alondra Antongiorgi indicou que o Nilus oferece serviços para países como México, Argentina e Porto Rico e explicou que a associação trabalha, por meio de um aplicativo, com a oferta de produtos como enlatados, que em outra situação, teria sido desperdiçado a baixo custo.
O Problema
Em 2019, o Relatório do Índice de Desperdícios de Alimentos em 2021, feito pelo Programa da Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, por suas siglas em inglês), estimou que 931 milhões de toneladas de comida foram desperdiçadas ao redor do mundo, isto é, 17% da produção global total de comida foi para o lixo.
Os alimentos eventualmente desperdiçados na América Latina poderiam ter alimentado cerca de 1200 milhões de pessoas, como dito pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, pela sua sigla em inglês).
No mesmo sentido, de acordo com o relatório do UNEP, cerca de oito a dez por cento das emissões de gases do efeito estufa estão associadas a comidas não consumidas.
"O acúmulo de restos de comida em aterros sanitários elimina toneladas de metano (gás do efeito estufa), um gás pior que o dióxido de carbono. Um exemplo de situação na qual o Nilus está trabalhando", Antongiorgi explicou.
Além disso, a Gerente Nacional acrescentou que enquanto o planeta continuar sofrendo inúmeras ameaças causadas por emissões dos restos de comida, como mudanças climáticas e aquecimento global, a segurança alimentar será cada vez mais impactada, através do esgotamento da safra agrícola.
"As colheitas e a agricultura serão afetadas, as reservas de comida cairão, como resultado da crise pela qual o planeta está passado, o desperdício de comida piora isso tudo", disse ela.
Ainda nesse tema, Beitler afirma que um dos maiores desafios na erradicação do desperdício de alimentos é a falta de incentivo à reciclagem de comida ou à que pessoas peguem os resíduos e os levem, por exemplo, para cozinhas comunitárias ou motoristas de comida.
Como eles o fazem e qual o seu impacto?
Segundo a gerente porto riquenha, o processo de procura e resgate dos produtos ocorre pelo aplicativo da empresa e consiste em entrar em contato com os produtores e distribuidores locais e avaliar, de acordo com seu valor nutricional, a comida que, em outro cenário, seria desperdiçada.
"Nós (Nilus) avaliamos se ela (comida) deve ou não ser levada, checamos o por que dela está sendo doada, quando exatamente ela irá perecer e como podemos fazer para preservá-la", indicou Antongiorgi. "Se eles (os produtores e distribuidores) doarem para nós, nós também doaremos para eles. Se eles nos venderem, nós também venderemos", ela complementou quanto aos aspectos de barganha e economia do Nilus.
De acordo com a gerente da nação, uma vez que a empresa não só trabalha propositalmente com produtores e distribuidores locais mas, também, resgata restos de alimentos para reduzir sua pegada de carbono, a Nilus mede sua contribuição para a emissão e expõe, toda vez que um cliente faz algum pedido pelo App, o impacto de redução das emissões de carbono de todos os produtos.
Antongiorgi indicou que, indo para comunidades para entregar caixas de comida às famílias, a companhia procura ser acessível. Em adição, ela visa otimizar ao máximo o valor nutricional dos seus produtos, incluindo nas caixas brochuras com receitas customizadas.
Ademais, a companhia, que já colaborou com entidades como a Fundação Clinton, a World Center Kitchen, Universidade de Harvard e Marriott International, está sempre em busca de novas estratégias para se adaptar e progredir. Um exemplo disso tem sido a pandemia de COVID-19, de acordo com o Gerente Nacional.
"Um dos desafios que nós (Nilus) enfrentamos e continuamos a enfrentar, foi a interação com os produtores durante o processo de entrega das caixas de comida, pois o contato entre as pessoas era limitado, por questões de segurança", afirmou Antongiorgi.
No entanto, ele enfatizou que o maior desafio encarado pela Nilus é lutar contra a falta de informação e conhecimento sobre desperdício de comida e seus efeitos na sociedade e ambiente.
Apesar disso, segundo uma declaração de confiança da empresa, Nilus conseguiu realizar 1.500 viagens para comunidades, forneceu 1.800 cozinhas comunitárias, totalizando 130.000 beneficiados, além de ter reduzido 2.500 toneladas de emissão de dióxido de carbono. Tudo de acordo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e garantindo a rastreabilidade.